Pular para o conteúdo principal

Por que tu fazes isto contigo mesmo?

Este blog mira em todos os lados, esquerda ou direita, e não perdoa nem mesmo meus colegas de partido. Desta vez, a picuinha é com Vic Pires Franco (DEM-PA). Para que tu tenhas uma noção do que estou falando, Franco patrocinou a cena mais bizarra e patética da ainda mais patética CPI da Crise do Sistema do Tráfego Aéreo, o bate-boca das barrinhas de cereal da GOL no dia 31 de maio de 2007, que transcrevo na integridade:
O SR. DEPUTADO VIC PIRES FRANCO - Mas, ao longo desse tempo, de lá para cá, a gente vê que quando a gente tenta fazer reservas, a gente não vê isso, a gente não vê essas diferenças brutais das tarifas da GOL para as outras companhias. Eu tenho alguns exemplos aqui, com outra companhia concorrente sua, e vou dizer claramente, TAM e outras, em que as passagens aéreas da GOL às vezes são mais caras do que as passagens da TAM. Essa filosofia era dos baixos custos. Eu lembro na época que disseram o seguinte: era só uma barrinha de cereal e líquido, refrigerante. Continua sendo a mesma barrinha de cereal. Outro dia, por exemplo, eu entrei no avião e sentei ao lado de uma senhora que me deu 3 barrinhas de cereal. Eu disse: “A senhora não quer?” E ela disse: “Não, é que eu venho não sei de onde e já me deram barrinha de cereal, barrinha de cereal, e eu odeio barrinha de cereal”. Eu fiquei com as barrinhas de cereal e comi. Eram de banana, muito gostosas. Mas é só barrinha de cereal. Será que não daria para o senhor mudar essa filosofia da barrinha de cereal para alguma coisa mais (Risos)... Já que a gente voa tanto, um bombom de cupuaçu...
E outra coisa: o senhor tem uma tarifa que enlouquece o Brasil. O senhor tem uma tarifa de 50 reais que ninguém consegue, poucos conseguem.
Outro dia, minha filha dormiu no computador, porque ela queria levar o namorado para Belém, e aí sobrou para o sogrão aqui, porque ela não conseguiu ter acesso à tarifa de 50 reais.
Eu, de vingança, fui pela TAM, coloquei o garoto pela TAM e ele foi pela TAM.
O SR. CONSTANTINO DE OLIVEIRA JÚNIOR - Vingança com o garoto?
O SR. DEPUTADO VIC PIRES FRANCO - Também. Aí eu teria mandado por outra companhia. Vocês estão rindo, mas é verdade. Ela ficou, Presidente Constantino, a noite inteira na frente do computador, e ela dizia: “Pai, eu não agüento mais”. “Minha filha, eu não tenho culpa, só se eu ligar para o Constantino”. Ninguém consegue.
A gente não tem acesso. É uma propaganda bonita, de 50 reais... Para nós Deputados que viajamos toda semana, seria uma beleza 50 reais por viagem, mas a gente não consegue.
Mas eu gostaria de apenas fazer essa observação e ver se o senhor poderia... É apenas uma... Não sei qual é a filosofia, eu queria saber do senhor isso. Essa filosofia mudou? Porque a barrinha de cereal não, só se os preços...
O SR. CONSTANTINO DE OLIVEIRA JÚNIOR - Muito obrigado, Deputado. Com relação à variação dos preços, que foi o princípio da sua colocação, o que acontece é o seguinte: é difícil pontuar um determinado vôo, porque, como eu coloquei antes, muitas vezes a gente constrói a ocupação daquele vôo com passageiros de vários destinos e assim por diante. Num determinado momento, aquele vôo pode estar com uma ocupação extremamente elevada, e nesse momento não necessariamente a congênere, a competidora, está na mesma situação, ou seja, eventualmente ela está com um nível de ocupação bem abaixo naquele determinado vôo por um motivo ou por outro, por planejamento...
E continua piorando... Como sempre digo, de onde se menos se espera, daí é que não sai! Pois o mesmo Franco apresentou o PL 3279/2008 que "[o]briga condomínios de edifícios comerciais e residenciais a instalarem em suas áreas comuns sistemas de monitoramento e gravação de imagens." Sim, bem ao estilo de 1984. Daí a colocar uma câmera no teu banheiro estaríamos a uma barrinha de ceral de distância! Desnecessário dizer que não há prazo máximo para manutenção das imagens, quem poderá acessá-las, o pacote completo de qualquer coleta de dados civilizada. E para dar o toque de bizarrice ao estilo Deputado-Sem-Noção-E-Sem-Nada-de-Útil-para-Perguntar-em-CPI, há uma punição. Não ao uso indevido das imagens, Deus nos livre, mas a não instalação das câmeras:
Art. 2º Aos infratores da presente lei aplicam-se as sanções penais dispostas no
art. 305, do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal.
O que diz o tal artigo:
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento é particular.
Para o Mr. Barrinha de Cereal, não invadir a privacidade de condônimos merece uma punição mais forte do que espancar os condônimos ou invadir o espaço privado dos condônimos. E como o PL não tem nenhum tipo de informação científica da utilidade da tal proposta, quando muito apela para a lorota da utilidade das câmeras de vigilância, Franco apela para a comoção citando o caso Isabella Nardoni, típica tática desesperada de pessoas que não possuem nenhum tipo de argumentação baseada em fatos confirmáveis e verificáveis.

O pior de tudo, é que um absurdo como esse dá cria.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quero ver tu achares uma constitucionalidade

Ophir Cavalcante Junior, diretor tesoureiro da OAB falou ao 1º Encontro Nacional de Identificação do Polícia Federal e fez vários questionamentos sobre a constitucionalidade do Registro Único de Identificação Civil, oficialmente conhecido como Cadastro Único (CU). Como diz a reportagem : Uma das principais preocupações da OAB com o sistema único de identificação, observou, é de que ele possa representar violação aos direitos fundamentais e garantias individuais, previstos no artigo 5° da Constituição, ou favorecer no futuro o fortalecimento do autoritarismo e de um Estado policial, ante o eventual enfraquecimento ou desaparecimento da democracia no País. Meu Deus do Céu! A OAB ainda tem dúvidas sobre a "violação aos direitos fundamentais e garantias individuais" que o CU pode inflingir sobre as pessoas no Brasil? A OAB já ouviu falar em Ahnenpaß ?

Eu vejo a luz!

Não. Eu não estou falando de um fato eleitoral ocorrido esta semana (algo que não aconteceria se Mitt Romney fosse o candidato). Estou falando de um comentário que recebi. A um bom tempo atrás, ainda em abril de 2006, mandei um e-mail para a ONG SaferNet perguntando quem a financia, essas coisas da vida. Esperei sentado, deitado, caminhando, correndo e de outras formas e nada. Eis que a luz aparece para mim nesta madrugada. O leitor Leandro (sem sobrenome) deixa um comentário que transcrevo na íntegra: Quem são os agentes envolvidos? O próprio site da Safernet ajuda a descobrir: http://www.safernet.org.br/site/institucional/redes/inhope E esta Inhope: https://www.inhope.org/en/partners/partners.html https://www.inhope.org/en/partners/sponsors.html Sabendo-se quem é principal patrocinador desta rede dá para entender porque a Safernet implica tanto com o Google e o Orkut. Como fazia um tempinho que não acessava o site da SaferNet, notei que eles mudaram o layout da página. Indo ao pri

Privacidade, algo que passa TRI longe

Esqueci-me de postar um pedido de acesso à informação que fiz à Prefeitura de Porto Alegre sobre o TRI , o sistema de bilhete eletrônico dos ônibus portoalegrenses. Fiz o pedido em 8 de março, com prazo para 11 de abril, mas só recebi a resposta no dia 7 de maio. A despeito da demora, a pessoa que me respondeu fez a gentileza de responder-me usando meus questionamentos, ao invés de elaborar uma resposta geral e separada. Abaixo as perguntas e as respostas. Prezado(a) Sr.(a) Relativo ao seu pedido de informação ao Município de Porto Alegre, informamos o que segue:  - Existe uma política de privacidade para o programa? Se sim, gostaria de receber uma cópia de tal política. Não existe um Documento formal, entretanto a política adotada é de confidencialidade e privacidade dos dados.  Eles lidam com uma quantidade considerável de dados, que permitem rastrear uma pessoa dentro de Porto Alegre mas não formalizaram uma política de privacidade, utilizando-se apenas da esotérica exp