O Folha de S. Paulo de hoje denuncia um esquema onde empresas estariam oferecendo serviços de "assessoria" para portadores de carteiras de habilitação que estão em vias de suspensão devido as infrações de trânsito. Contudo, o Detran de São Paulo só divulga no Diário Oficial daquele estado os números das carteiras e comunica os motoristas pelos Correios. Diz a reportagem:
Uma das empresas, a SP, de São João Clímaco, zona sul de São Paulo, disse à Folha que recebe lista com "nome e telefone" de "uma pessoa que trabalha no Detran", cujo nome não revelou.
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Motoristas são procurados assim que é publicada a lista com os números de CNHs que estouraram os 20 pontos. O Detran dá prazo de 30 dias para recurso. Se for negado, o condutor tem a carteira apreendida e é obrigado a fazer curso de reciclagem.
A promessa das "assessorias" é reduzir ao mínimo o período sem carta, cobrando R$ 450, em média.
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Os condutores são surpreendidos pelo assédio das empresas.
"Comecei a receber as ligações das empresas e fiquei sem saber o que fazer", diz Ana (nome fictício), uma empresária de São Paulo.
A competição no setor, segundo Karol, da SP, é acirrada. É comum, por exemplo, clientes se irritarem por terem recebido "umas dez" ligações antes, diz. "Tem muito picareta no mercado."
Depois, tem um artigo de Guaracy Mingardi sobre o uso de dados pessoais no setor público:
No ano de 1995 a Assembleia Legislativa de São Paulo iniciou uma CPI para investigar o crime organizado e suas ligações com o aparelho do Estado.
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O que mais chamou atenção foi que empregados de recuperadoras de veículos tinham acesso ao banco de dados do Detran, ou seja, tinham uma senha oficial e a permissão para pesquisar nesse sistema.
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Na cultura policial a cessão de informações privilegiadas, ou mesmo a venda, para determinadas empresas, nunca foi vista como falta grave, apesar de ser ilegal.
Muitos policiais que se consideram honestos fizeram disso uma fonte de renda extra.
Já o acerto com o criminoso sempre foi avaliado como mais nocivo, coisa feita por corruptos.
A ideia é que negociar com as "pessoas de bem" é apenas um pecadinho venial, quase que sem importância.
E os que são pegos sempre se defendem alegando que é um caso irrelevante, um crime sem vítima.
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