Elio Gaspari é um articulista temporão, de vez em outra ele acerta num artigo, e isto aconteceu no Folha de S.Paulo de hoje. Gaspari escreveu um artigo sobre a implantação do Siniav, um medonho sistema de violação de privacidade de motoristas de automóveis que custará, em estimativas, a bagatela de R$ 2 bi para ser implementado em todo o Brasil.
Pois dando uma olhada no site da Prefeitura de São Paulo, eles usam e abusam do wishful thinking. Primeiro:
Pois dando uma olhada no site da Prefeitura de São Paulo, eles usam e abusam do wishful thinking. Primeiro:
Não haverá qualquer tipo de custo para motoristas e proprietários de veículos.
Como disse Milton Friedman, na época da vovó mocinha, "there is no free lunch". É, eles colocam no mesmo texto uma informação dizendo que irão fazer uma licitação para escolher a empresa que vai instalar os chips nos carros mas ainda assim "não haverá qualquer tipo de custo". Esta empresa estaria fazendo caridade? Continuando:
Combinando o trabalho das antenas com outros equipamentos de fiscalização, como radares com leitores automáticos de placas, será possível identificar veículos sem os "chips". Eles não estarão emitindo respostas aos sinais das antenas. Sabendo quais são os carros que não possuem "chips" ou aqueles com impostos atrasados ou multas em aberto, será possível realizar operações policiais seletivas, interceptando nas ruas apenas os carros com irregularidades previamente conhecidas. Da mesma forma, será mais fácil localizar veículos roubados identificados pelo sistema ou, ainda, os que tiverem os "chips" removidos, pois da mesma forma a ausência do equipamento levará à interceptação em batidas policiais montadas em locais próximos às antenas de recebimento de informações.
Agora Mr. Wishful Thinking encontra a Dona Falácia! Se um carro não possuir tal chip, ele não poderá ser identificado pelas antenas, só que os leitores automáticos de placas também não identificam por rádiofreqüência mas sim por reconhecimento ótico de caracteres; e mesmo, por exemplo, que no banco de dados conste que o carro tenha o chip, não quer dizer que o mesmo esteja com o chip operante no devido momento da leitura da placa. Já se os leitores tiverem antena, então estaremos tendo uma cara e inútil redundância. Além disso, graças a topografia e urbanismo de São Paulo, é razoável deduzir que haverá inúmeras áreas de sombra, assim como ocorre com qualquer operação por rádio, o que deixará os carros que por ali passam livres da vigilância carrofascista. E voltando ao preço do sistema:
A exigência da etiqueta eletrônica não irá acarretar quaisquer ônus para os proprietários dos veículos. Na fase inicial de implantação do sistema, os custos de instalação ficarão por conta da empresa que irá operar o sistema. Numa segunda fase, os veículos sairão das fábricas com as etiquetas.
Como já está fartamente documentado, a dita empresa fará uma caridade e doará os chips junto com a instalação do mesmo nas placas. E aí, para não dizer que os carrofascistas não tem criatividadade, eles dizem que "numa seguda fase, os veículos sairão das fábricas com as etiquetas". Pelo jeito a Prefeitura acha que todas as empresas privadas são instituições de benemerência. E chegamos no ponto fulcral do sistema:
Todas as informações estarão sujeitas às mesmas regras de sigilo e confidencialidade que regulam as empresas de telefonia e bancos, de forma a se preservar a privacidade do cidadão.
Sigilo em bancos? Quem melhor do que Francenildo Santos Costa para testemunhar a qualidade do sigilo bancário no Brasil. Só para registro: os próprios técnicos da Prefeitura de SP "avaliam que nesse processo a manutenção do sigilo não será uma tarefa fácil." A mesma coisa ocorre com a telefonia, onde é comum a clonagem de telefones celulares. Questão interessante: e a clonagem de placas?
Dando uma pesquisada sobre o assunto achei um texto bastante interessante, com uma pergunta essencial:
Dando uma pesquisada sobre o assunto achei um texto bastante interessante, com uma pergunta essencial:
Os dados rastreados pelas antenas serão sigilosos? O sistema vai, por exemplo, registrar o trajeto e o horário da rota feita pelos veículos na cidade? Como garantir que as informações não serão usadas irregularmente? É possível o sistema ser atacado por algum hacker?
Os dados serão sigilosos. O acesso a informações como nome e endereço do proprietário somente será feito por pessoal autorizado dos governos municipal e estadual.
Quanto à ação de hackers, a CET diz que não há como garantir que isso não ocorrerá, visto que até bancos de dados da Nasa e do Pentágono são atacados. Todavia, o sistema terá uma série de chaves e mecanismos de proteção. Além de códigos pessoais que permitirão identificar quem teve acesso às informações. (itálico meu)
Se o Pentágono, que é Pentágono e tem um orçamento de mais US$ 400 bilhões, sofre ataques de hackers no gabinete do Secretário de Defesa, o que podemos esperar da CET? Outro departamento crítico dos EUA, o de Segurança Interna, também tem falhas na proteção de dados.
Mas isso não parece afetar a crença do haceçor da diretoria da CET, Aquiles Pisanelli, que diz que o sistema é à prova de hackers. Até o presente momento, o que foi provado é que o Siniav é à prova da privacidade e do bom senso.
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